A Comissão
Europeia divulgou a sua proposta de Lei de Restauro da Natureza até 2050
POR HELENA GERALDES
22.06.2022
Os Estados membros terão de cumprir objetivos
juridicamente vinculativos para restaurar 80% dos habitats em mau estado e
recuperar a natureza de todos os ecossistemas, desde as terras agrícolas, às
florestas e aos mares.
A proposta de Lei de Restauro da Natureza, para reparar os danos causados à natureza europeia até 2050, “é um
passo crucial para evitar o desaparecimento dos ecossistemas e prevenir piores
consequências das alterações climáticas e de perda de biodiversidade”, explica
Bruxelas em comunicado.
A natureza europeia
está num estado de deterioração alarmante. Mais de 80% dos seus habitats
estão em mau estado. As zonas húmidas, as turfeiras e os habitats de dunas
estão entre os mais afetados. Além disso, 71% das populações de peixes e 60%
das populações de anfíbios diminuíram na última década. Estima-se que entre
1997 e 2011, a perda de biodiversidade tenha representado uma perda anual de
entre 3,5 e 18,5 mil milhões de euros.
Hoje, a Comissão Europeia propôs a primeira legislação
da história a propor explicitamente restaurar a natureza da Europa. Assim,
“serão aplicados a todos os Estados membros objetivos juridicamente
vinculativos para o restauro da natureza em diferentes ecossistemas que
complementarão a legislação vigente”.
O objetivo é que as medidas de restauro da
natureza alcancem, pelo menos, 20% das zonas terrestres e marítimas da União
Europeia (UE) até 2030 e se estendam a todos os ecossistemas que precisem de
ser restaurados até 2050.
O restauro será conseguido através de técnicas
de renaturalização, reflorestação, enverdecimento das cidades e eliminação da
contaminação para permitir a recuperação da natureza.
Bruxelas explica também que “restauro da
natureza não equivale a proteção da natureza e não implica, automaticamente, a
criação de mais áreas protegidas”. “Ainda que as áreas protegidas também
precisem de ser restauradas, devido ao estado em que estão cada vez mais
deteriorado, nem todas as zonas restauradas se converterão em áreas
protegidas.”
Isto porque o restauro não exclui a atividade
económica e consiste em “viver e produzir em harmonia com a natureza,
recuperando mais biodiversidade em todas as partes incluindo nas zonas onde se
desenvolvem atividades económicas”.
O investimento no restauro da natureza soma
entre 8 e 38 euros no valor económico a cada euro gasto, graças aos serviços
dos ecossistemas, que garantem a segurança alimentar por exemplo, e à presença
da natureza no dia-a-dia, com benefícios para a saúde e bem-estar.
A Lei de Restauro da Natureza vai estabelecer objetivos
e obrigações de restauro num amplo leque de ecossistemas terrestres e marinhos.
As prioridades serão os ecossistemas que têm maior potencial para eliminar e
armazenar carbono e prevenir ou reduzir o impacto das catástrofes naturais.
A nova Lei baseia-se na legislação vigente mas
cobre todos os ecossistemas, não apenas as áreas protegidas pela Directiva
Habitats e a Rede Natura 2000. Contará com um financiamento substancial da UE:
o actual quadro financeiro plurianual destinará cerca de 100.000 milhões de
euros à Biodiversidade, incluindo o restauro.
Entre os objetivos estão o travar da
diminuição dos polinizadores até 2030 e o seu aumento a partir desse ano; o
travar da perda de espaços verdes urbanos até 2030, o aumento de 5% até 2050, o
coberto mínimo de árvores de 10% em todas as cidades e o aumento de espaços
verdes integrados em edifícios e infra-estruturas; o aumento da biodiversidade
nos ecossistemas agrícolas (em especial as borboletas e as aves); aumento geral
da biodiversidade nas florestas; o restauro de habitats marinhos como as pradarias
marinhas e o aumento de espécies como golfinhos, tubarões e aves marinhas; e
eliminação das barreiras fluviais para que, pelo menos, 25.000 quilómetros de
rios passem a ser rios de caudal livre até 2030.
Para alcançar estes objetivos, a Lei exigirá
aos Estados membros a elaboração de planos nacionais de restauro, em estreita
colaboração com investigadores, as partes interessadas e os cidadãos. E imporá
normas específicas quanto ao acompanhamento, avaliação, planificação,
apresentação de relatórios e execução.
Esta proposta é a principal contribuição da UE
para as negociações em curso sobre um quadro mundial para a diversidade
biológica posterior a 2020, que será adotado na Conferência das Partes da
Convenção sobre a Diversidade Biológica (COP15), a acontecer em Montreal de 7 a
15 de Dezembro deste ano.
“Os europeus disseram-no claramente: querem
que a UE atue em favor da natureza para que volte a ocupar um lugar nas suas
vidas”, comentou o comissário europeu do Ambiente, Oceanos e Pesca, Virginijus
Sinkevičius.
“Os cientistas também o disseram claramente:
não há tempo a perder. E também é claro o argumento comercial: cada euro gasto
no restauro da natureza dar-nos-á, pelo menos, oito. Esta proposta histórica
trata disso mesmo, de restaurar a biodiversidade e os ecossistemas para que
possamos viver e prosperar em harmonia com a natureza”, acrescentou.
“É a primeira lei deste tipo à escala mundial
e esperamos que possa inspirar um elevado compromisso internacional para a proteção
da biodiversidade na próxima COP15.”
Agora, a proposta de Lei será avaliada pelo
Parlamento Europeu e pelo Conselho Europeu. Quando for adotada, as suas
consequências serão progressivas, sendo que as medidas de restauro da natureza
devem estar em vigor até 2030.
Fontes:
https://www.wilder.pt/historias/comissao-europeia-aprova-a-sua-proposta-de-lei-de-restauro-da-natureza-ate-2050/
Proposal for a Nature Restoration Law
Fontes:
European Commission,
Directorate-General for Environment, Restoring nature : for the benefit of
people, nature and the climate, Publications Office, 2022, https://data.europa.eu/doi/10.2779/439286
https://environment.ec.europa.eu/publications/nature-restoration-law_en
https://environment.ec.europa.eu/publications/nature-restoration-law_pt
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