As acácias são uma das maiores ameaças à biodiversidade

 


Um amarelo vibrante que encanta, que deixa as pessoas mais felizes, como qualquer outra que ilumine o dia. Esse encantamento amarelo vibrante vem das acácias, uma árvore que, apesar da sua beleza, é um sinal de alerta. Uma espécie invasora que cresce de forma descontrolada em Portugal e ameaça outras espécies, os ecossistemas, a nossa qualidade de vida e até a economia.


As acácias, provenientes da Oceânia, foram inicialmente introduzidas em Portugal para controlo da erosão, mas a verdade é que são agora uma das maiores ameaças à biodiversidade em Portugal, dado que "substituem as espécies autóctones, alteram o solo, reduzem a disponibilidade de água e criam um monopólio verde que sufoca a diversidade natural”, diz a especialista em espécies invasoras, professora da Escola Superior Agrária do Politécnico de Coimbra (ESAC-IPC) e investigadora no CERNAS, Hélia Marchante, garantindo que as acácias trazem também outro tipo de problemas.


"O pólen destas é alergénico, afetando a saúde respiratória de muitos cidadãos. Para quem sofre de rinite ou asma e vive ou trabalha perto de acácias, esta pode ser uma época especialmente difícil. Além disso, os custos económicos associados à remoção destas plantas e ao impacto em setores como a floresta são significativos, reforçando a necessidade de intervenções coordenadas e continuadas", salienta, pedindo ajuda às pessoas.

"Identifiquem acácias na sua região e ajude a colocá-las no mapa através de aplicações de ciência cidadã gratuitas como o iNaturalitst/BioDiversity4All", refere.

Perante o avanço desta espécie em Portugal, foi feito recentemente um estudo, pela Universidade de Coimbra, que salienta a importância de "atuar cedo sobre pequenas populações de acácias é essencial para travar o seu avanço".

Liderado por Raquel Juan Ovejero, investigadora do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e da Universidade de Vigo, este estudo, realizado na Serra da Lousã, apresenta novos dados, da forma como "a invasão da Acacia dealbata (acácia-mimosa) e da Acacia melanoxylon (acácia-negra) afeta a estrutura da vegetação, a qualidade do solo e da folhagem (em termos de teor de carbono e azoto), e as comunidades de colêmbolos - pequenos invertebrados do solo fundamentais para o ciclo de nutrientes e para a decomposição da matéria orgânica. Foram ainda estudados os efeitos em cascata que estas alterações podem provocar no funcionamento geral do ecossistema".

"À medida que aumenta a sua cobertura, diminui, de forma significativa a abundância de plantas herbáceas e a riqueza de espécies, o que se traduz numa perda clara de biodiversidade", explica a responsável do estudo.


"Em Portugal, a situação é especialmente grave. É o país mediterrânico com maior número de espécies de acácias invasoras, favorecidas pelo abandono rural e pela fragmentação florestal. Estes fatores aumentam a vulnerabilidade das florestas e matos, onde as acácias avançam rapidamente e provocam perdas de biodiversidade, alterações no solo e maiores dificuldades na gestão florestal" refere Raquel Juan Ovejero


"Não só se detetou uma redução na relação carbono/azoto da folhagem e um aumento do carbono orgânico com a invasão das acácias - alterações que modificam a disponibilidade de nutrientes e os processos de decomposição, como também se registaram impactos na fauna", acrescenta a investigadora, destacando que os diferentes grupos funcionais de colêmbolos responderam de forma desigual às modificações no solo e na folhagem, evidenciando "alterações subtis, mas relevantes na dinâmica dos ecossistemas".

Esta investigação refere que as acácias australianas tornaram-se num dos principais problemas ambientais da região do Mediterrâneo, nomeadamente no nosso país.

Com base neste estudo, os especialistas concluíram que "as intervenções precoces são mais eficazes, menos dispendiosas e reduzem o risco de consequências ecológicas graves. No entanto, a gestão requer acompanhamento contínuo, dado que ambas as espécies possuem bancos de sementes persistentes e podem rebrotar após perturbações», alertam. Além disso, acrescentam que a restauração de habitats nativos surge como uma ferramenta fundamental para reforçar a estabilidade dos ecossistemas e prevenir novas invasões".

Raquel diz também que "as medidas para conter a expansão das acácias baseiam-se, geralmente, na eliminação manual ou mecânica de plântulas e pequenos núcleos, no descasque ou, quando tal não é viável, na injeção de herbicida em exemplares isolados, bem como no corte basal de manchas mais extensas".

Refira-se que outro estudo, também da Universidade de Coimbra, refere que "as invasões biológicas num ecossistema terrestre podem ter efeitos em ecossistemas adjacentes, como os ribeiros.

Foi feito um trabalho, durante um ano, "em seis ribeiros na Serra da Lousã, uma área grandemente invadida por mimosa, três ribeiros em floresta de espécies nativas e três ribeiros em floresta invadida por mimosa”, onde foi visível que "a invasão das florestas ribeirinhas por acácias afeta as comunidades aquáticas nos ribeiros”.

"As alterações na diversidade dos organismos aquáticos nos ribeiros em floresta invadida são preocupantes, uma vez que comunidades menos diversas estão menos preparadas para lidar com alterações ambientais que possam ocorrer, como as associadas a mudanças climáticas, e podem ser menos eficazes a desempenhar funções no ecossistema, como a reciclagem dos nutrientes”, referiram.


Data: 20-10-2025



Fontes/Links:

https://sapo.pt/artigo/as-acacias-sao-uma-das-maiores-ameacas-a-biodiversidade-em-portugal-a-situacao-e-grave-e-ha-que-agir-68f5d23be765e8baf2c4505c

https://www.agroportal.pt/as-acacias-sao-uma-das-maiores-ameacas-a-biodiversidade-em-portugal-a-situacao-e-grave-e-ha-que-agir/

https://www.rederural.gov.pt/pt/?view=article&id=8018:alerta-amarelo-as-acacias-invasoras-estao-a-dominar-a-paisagem-e-a-nossa-saude-nao-vai-sair-ilesa

https://www.biodiversity4all.org/projects/invasoras-pt

Outros Links:

https://vaqueirinhoampv.blogspot.com/p/atuar-cedo-sobre-as-populacoes-de.html

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