A biomassa em Portugal: governo deve intervir!
Artigo de
Opinião
Por: Miguel
Viegas
Professor
e investigador na Universidade de Aveiro
30
Setembro 2022 às 11:36
A floresta
representa um recurso com um potencial estratégico para Portugal. Em muitos
territórios, a floresta, desde bem gerida, pode representar a única atividade
rentável e capaz de estancar a hemorragia social, económica e demográfica. O
bom aproveitamento da biomassa excedentária da floresta deveria ser a pedra
basilar de todo o sistema, contribuindo para a prevenção dos incêndios, a
produção de energia renovável e a criação de valor na fileira florestal.
Contudo, a corrida às energias renováveis altamente subsidiadas, acelerada
recentemente com a guerra na Ucrânia, está a criar uma situação insustentável
em Portugal. Se nada for feito, o nosso país corre o risco de ficar sem
floresta, sem energia renovável e com dezenas de unidades industriais do setor
paradas por falta de matéria prima.
A pressão
sobre a nossa floresta não é de agora. Assim que começaram a subsidiar a
energia renovável, as grandes multinacionais da energia começaram a reconverter
as suas centrais a carvão para biomassa. A Europa começou a importar do mundo
inteiro quantidades industriais do mundo inteiro, sendo hoje o maior consumidor
e importador mundial de pellets. Uma Europa "limpa", mas à custa de
países terceiros. Entre os maiores beneficiários deste banquete, encontramos as
grandes multinacionais da energia como a Orsted ou a Drax entre outras.
Em
Portugal, estima-se que a produção de pellets em 2021 tenha atingido as 815 mil
toneladas, 60% das quais foram exportadas para o Reino Unido, Países Baixos e
Dinamarca para serem queimadas em centrais de produção elétrica. Esta procura
desenfreada de biomassa agravou-se com as sanções à Rússia, um dos grandes
produtores e fornecedores de pellets para a Europa. A pressão na biomassa florestal,
que já era enorme, tornou-se insustentável, colocando em risco a floresta
(sobretudo a floresta de pinho) e todas as indústrias associadas incluindo as
centrais de biomassa. São várias as associações que têm denunciado a queima de
troncos de madeira apesar da legislação limitar a biomassa aos sobrantes da
floresta ou resíduos industriais.1 O Centro PINUS considera preocupante que o
setor energético tenha representado 27% do consumo de pinho, com graves
implicações para a sustentabilidade da Fileira e a competitividade do país,
obrigando à importação de madeira.
O governo
português não pode ignorar esta situação por muito mais tempo, acreditando que
as leis do mercado irão resolver o problema. Hoje, os milhares de famílias que
investiram em sistemas de aquecimento a partir de biomassa são confrontados com
uma subida de preço dos pellets de 300% (sim o triplo!). Empresas francesas
estão neste momento a oferecer 1200 euros por tonelada de pellets. Ao nível da
floresta, à falta de biomassa, arrancam-se árvores inteiras para satisfazer
lucros imediatos da indústria exportadoras de pellets cuja capacidade de
produção está ainda longe do seu limite.
Vivemos um período de exceção que
exige medidas excecionais. Ao governo português exige-se que intervenha nesta
situação, fiscalizando a indústria e limitando a saída de biomassa, protegendo
a fileira florestal, os consumidores e o nosso meio ambiente.
Links:
https://www.jn.pt/opiniao/convidados/a-biomassa-em-portugal-governo-deve-intervir-15212341.html
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