A FLORESTA EM PORTUGAL - UM PASSADO... ESCONDIDO:
Plínio, há 2 milénios, das nossas montanhas, dizia-as estéreis, onde nada crescia...
Costa Lobo descreve o Portugal do séc XV como um imenso matagal...
Os primeiros trabalhos científicos no séc XIX, referem 5/7 do país de Matos e Improdutivos...
Hoje, metade da nossa floresta são Matos de Urze, Giesta, Esteva, etc...
A Floresta é desde sempre um desígnio da Administração - foram Forais, Sesmarias, Coutos, Ordenações... - que viam nela grande valor...
Mas a ideia esbarrou sempre na Economia Real.
As pessoas tinham que comer, tinham por isso que fertilizar a terra e isso implicava matos pastados
por gado...
A vida era dura, comunitária nas montanhas, e a floresta era... um empecilho (não produz bom pasto, esconde feras e ladrões, demora a dar rendimento, arde... enfim, não enchia barriga).
Não é de admirar por isso que as nossas Matas antigas tenham sido do Estado ou da Igreja - com outros recursos e outra... longevidade.
Tudo isto se começa a desfazer no séc. XIX, ao mesmo tempo que crescia a influência da Administração, que culmina nos Serviços Florestais e no Regime Florestal.
Não obstante, foram mudanças económicas que trouxeram a transição florestal. Floresta que avançou sobre... matos.
Qual? As espécies que em solos pobres e climas duros, apresentavam rentabilidade em intervalos de tempo aceitável:
- Os Pinheiros, que davam madeira - quando era necessária para milhões de postes, travessas, etc - em poucas décadas e ainda resina, pinhas, lenha...
- Os Sobreiros que davam cortiça - e havia sido inventada a rolha - a cada década e em terreno plano podiam ter agro-pastorícia,
- Mais tarde os Eucaliptos que cresciam rápido, principalmente após se descobrir o seu uso para produção de papel;
Inicialmente, não faltava gente e suas atividades no espaço... O consumo de matos era enorme... O fogo abundante sob a forma de queimadas, era raro enquanto Incêndio... A gestão florestal era uma externalidade não remunerada dessa... vivência.
Mas tudo mudou: o desenvolvimento económico das cidades e as oportunidades no estrangeiro levaram os jovens, os que ficaram puderam trocar o carvão por gás e eletricidade, e puderam trocar o molho de mato às costas e os kms atrás de um rebanho, assim como a preparação do estrume, por adubos sintéticos, estradas, carros, tractores, em vez de Bois, Burros ou Cavalos... Além de que, envelhecidos, também por essa via continuava a queda demográfica...
A Floresta atinge então a sua máxima expressão.
Mas não é toda igual:
No Litoral, com muita gente, e bom desenvolvimento vegetal, a Floresta continuou um negócio razoavelmente rentável, mas cada vez mais pelo Eucalipto (com o Pinheiro a não conseguir competir: a Resina é uma sombra do que era, a procura de madeira caiu, etc...)
A Sul, lá se vão mantendo Montados, já que os seus produtos têm melhores mercados (pão de trigo vende mais que broa, cortiça mais que madeira, carne de vaca mais que cabrito...), mas não obstante a proteção legal, lá vão sendo abandonados ou trocados por Eucaliptos, Olivais, Parques Solares...
Já nas montanhas, foi uma última tentativa de aproveitamento antes do abandono, nos espaços agora sem uso, onde já não havia gestão do mato...
O fogo não se fez esperar...
Quem não tinha já nem tentou, quem tinha Pinhal ardido uma, duas, três vezes, desistiu...
Outros trocaram o Pinheiro pelo Eucalipto, sempre rendia qualquer coisa se escapasse ao curto intervalo de fogo, mas não só em grande parte não era de todo viável, como onde era, ardeu... Protegendo-o? Não valia a pena... Também ele foi abandonado na sua maioria...
Carvalhos e Castanheiros aqui e ali foram tentados... Não crescem e acabam ardidos... Proteção? Por muitas décadas sem rendimento?
Acácias tem-se expandido por Invasão... Não se faz por cá silvicultura delas...
Os Serviços Florestais experimentaram outras espécies - Faias, Abetos, que pouco mais servem para além de... ornamentais...
Medronheiros? Crescem muitos bravos... com os Medronhos a apodrecer... Plantações? De uma fruta sem mercado?
Esta falta de opções, de valor, tem sido pouco entendida pela esmagadora maioria dos Políticos , crentes num grande potencial florestal que nunca existiu... E assistimos a promessas atrás de promessas de valorização florestal - quando muita desta perda de valor se deve a um modo de vida moderno, mais seguro, mais confortável, face à miséria do passado, mais livre para escolher de acordo com gostos, ou a uma economia aberta, que importa barato... Vão mudar o mundo - e mudar para pior - para melhorar o nosso rendimento florestal?
E teria que aumentar muito - aqui onde é mais difícil, nas montanhas, e onde os Incêndios são um problema... - para pagar proteção/gestão...
Que como está, chega a custar muito mais que o que as florestas dão de rendimento bruto (ao qual tiram investimento, impostos, etc)...
Não se faz, claro...
Os terrenos lá ficam abandonados ao fogo... Porque não valem nada...
E daí que se lixem as partilhas, registos, impostos, etc... Aquilo não vale nada, e não é com coisas como cadastro, mercado de terras ou emparcelamento - agrupados têm sido com ZIFs por exemplo, mas estas grandes parcelas, como de resto as grandes parcelas públicas, até são as que mais ardem: na montanha não há vantagens de escala para gerir matos... - que vai passar a valer.
Aliás, se valesse/quando vale, todos esses problemas se resolvem sozinhos.
Andamos nisto, sem ver resultados políticos, há décadas, e com problemas com Incêndios a crescer...
Fazer igual, dará os resultados do costume.
Há formas mais fáceis simples e baratas de gerir o fogo? Há, e sem precisar de mudar a realidade para agir sobre ela...
Há oportunidades alternativas de criação de valor? Haverá certamente, mas também é preciso saber quais e como explora-las - que isto ao longo dos anos têm havido visionários, mas cuja visão depois ninguém consegue ver...
Mas com um post tão grande, ficará para outro dia a exploração desses pontos (que como ando a dizer queria falar ao Carlos Guimarães Pinto), deixando por hoje apenas este enquadramento e uma foto da Lousã, recém ardida, onde o fogo deixou à vista esse passado (os Socalcos que eram cultivados e fertilizados pelo pastoreio de cabras nas encostas envolventes - uma paisagem desarborizada mas produtiva) não assim tão distante que o Pinhal... escondia.
João Adrião's post
Data: 5-09-2025
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