“Invasão amarela australiana” coloca em causa qualidade do mel certificado da Lousã


“Invasão amarela australiana” coloca em causa qualidade do mel certificado da Lousã

24 de Fevereiro de 2022

Com o nome científico “acacia dealbata”, a mimosa é uma árvore originária da Austrália, cuja área de implantação em Portugal, sobretudo no Centro, tem aumentado exponencialmente todos anos. “Estas invasoras são uma ameaça real para a biodiversidade e para os nossos ecossistemas”, afirma a bióloga Helena Freitas. Mais o elevado número de mimosas está a colocar muitas dificuldades à quantidade e qualidade, do mel certificado da Serra da Lousã.

 

A directora executiva da Lousãmel – Cooperativa Agrícola dos Apicultores da Lousã e Concelhos Limítrofes, Ana Paula Sançana, sublinha que, “além da descaracterização da paisagem e também da nossa flora e biodiversidade, elas têm vindo a ocupar muitas das zonas que antes eram urzais”, sublinhou. As flores das diferentes variedades de urze, recorde-se, determinam as características únicas do mel com denominação de origem protegida (DOP) Serra da Lousã, que abrange 10 municípios, cabendo a gestão da região demarcada à Lousãmel, com sede na Lousã, no distrito de Coimbra.

 

Por outro lado, a flor da “acacia dealbata” não é melífera, ao contrário da flor de eucalipto, espécie exótica que tem vindo a revelar também comportamentos de invasora na sequência dos fogos florestais dos últimos anos. “Não vemos nenhuma inversão desta situação. Em zonas onde houve incêndios, a acácia consegue avançar com mais facilidade do que as outras espécies”, salientou Ana Paula Sançana. “Eu gostaria de ver a Serra da Lousã roxa, com as urzes em flor, e não amarela”, concluiu.

 

A professora catedrática da Universidade de Coimbra Helena Freitas realçou que a acácia possui “uma vantagem competitiva forte”, que lhe permite ganhar terreno à vegetação local que encontra pela frente. As espécies autóctones “têm uma resposta lenta” nesta disputa. “As mimosas adaptam-se com facilidade às novas condições e aos inimigos que enfrentam no nosso território”, referiu.

 

Enquanto leguminosas, “têm capacidade de processar o azoto atmosférico”, o que lhes assegura um desenvolvimento mais rápido, fazendo definhar as plantas concorrentes, por escassez de água, nutrientes e exposição solar. Helena Freitas alertou que “já são muito poucos os nichos de floresta autóctone”, no Centro e noutras regiões onde têm alastrado as manchas de invasoras, como as mimosas e os aliantos (“ailanthus altíssima”). “Precisamos de uma agenda de restauro da floresta em Portugal. Vale a pena admitirmos que será um processo de prazo longo”, tendo presente a “necessidade de adaptação” às alterações climáticas, defendeu a cientista, que em Janeiro assumiu o cargo de directora do Parque de Serralves, no Porto.

Fonte:

https://www.correiodabeiraserra.com/invasao-amarela-coloca-em-causa-qualidade-do-mel-certificado-da-lousa/

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