23 de setembro de 2024

A propósito dos recentes fogos...

 

Na recassa dos recentes incêndios que,segundo os dados mais recentes, consumiram mais de 135.000 hectares, divulgamos aqui excertos de alguns comentários publicados que se nos afiguram de interesse, relativamente ao tema.


👉 O primeiro respeita à perspetiva de um Autarca sobre necessidade de reformar a legislação para obrigar proprietários a limpar terrenos 

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Vários autarcas do país pedem ao Governo que tenha mão firme e avance com uma reforma legislativa que obrigue os proprietários a procederem à obrigatória limpeza dos terrenos, por forma a evitar a célere propagação dos fogos a que se assiste atualmente no país. Há que assegurar que os municípios também não saiam penalizados, alertam.

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A lei é permissiva e permite manobras dilatórias dos proprietários multados por falta de limpeza de terrenos. É também necessário dinamizar a junção de parcelas e reforçar as verbas dos municípios.

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“Reivindicamos uma reforma legislativa que permita que a minha decisão de mandar limpar um terreno ou mandar fazer um realojamento de uma casa ilegal se aplique rapidamente”, reforça José Ribau Esteves. Para que se “saia desta teia burocrática em que o país está envolvido, uma vez que uma boa decisão que o autarca toma leva, muitas vezes, muitos anos até poder ser concretizada”, lamenta.

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Municípios alegam “incapacidade financeira” para gestão de combustíveis nas florestas

Também o presidente da Comunidade Intermunicipal (CIM) da Região de Coimbra, Emílio Torrão, elenca “a dificuldade de garantir a gestão dos combustíveis em áreas da responsabilidade dos privados, nomeadamente em redor das zonas edificadas, onde muitas vezes não existe cadastro, ou os proprietários privados não têm capacidade económica para executar os trabalhos”.

Uma das maiores preocupações para o líder da CIM da Região de Coimbra é “a incapacidade financeira dos municípios em executar a totalidade da área da gestão de combustíveis, que está sob a sua responsabilidade” devido, designadamente, “à falta de apoio financeiro por parte do Estado, sem que haja abertura de linhas de financiamento que permitam apoiar a implementação das faixas de gestão de combustíveis da rede secundária”.

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👉 O segundo refere-se a um conteúdo divulgado no Facebook, no Grupo Política Florestal em Portugal:


 "Não, não arde tudo igual! O que ardeu há muito tempo foi a vossa vergonha.

É impressionante a tentativa dos capangas/reverentes de uma política florestal assassina e suicida, de ocultar/escamotear/enganar, martelando sem fim que "o problema não é o eucalipto, é a gestão, porque tirando as projecções, nestas condições extremas arde tudo igual," 

Tirando as projecções?

Como se por si só esta característica/variável, já não diferencie a espécie no grau de perigosidade, como se projecções de centenas ou milhares de metros saltando por cima de tudo e originando pequenos focos de incêndio que se tornam grandes, com uma propagação muito mais rápida, não fossem suficientes para pararem de dizer que arde tudo igual. 

E que é normal termos um milhão de hectares desta espécie concentrada na metade litoral ao longo de 300km, quase continuamente.

Relatório da Comissão Técnica Independente dos Fogos de 2017.

“EUCALIPTO (Eucalyptus globulus) NAS MESMAS CONDIÇÕES, PARA ALÉM DA MAIOR INTENSIDADE DOS INCÊNDIOS PELA EXISTÊNCIA DE CONCENTRAÇÕES MUITO SIGNIFICATIVAS DE COMPOSTOS VOLÁTEIS FACILMENTE COMBUSTÍVEIS NAS SUAS FOLHAS, TEM TAMBÉM A CARACTERÍSTICA DE PROJECTAR FOCOS DE INCÊNDIO SECUNDÁRIOS A GRANDES DISTÂNCIAS, EM PARTICULAR POR TER UMA CASCA QUE NOS PERÍODOS DE MAIOR SECA E CALOR SE DESTACA E ENROLA PODENDO ARDER DURANTE LARGOS MINUTOS.”

Neste momento e como sempre, arderam milhares de hectares de eucaliptal com e sem gestão, com e sem faixas de gestão, com e sem mato, de particulares, de associações florestais e da indústria. Porque com projecções destas, falar em gestão e faixas de gestão é uma brincadeira que só gente sem vergonha continua a propagar.

É impressionante a vossa falta de empatia e profundo desprezo pela comunidade, para servir uma indústria assassina de populações e do território.

Políticos no poder nas últimas décadas, parem de fingir que se preocupam com isto. No silêncio dos bastidores dão carta branca a estes assassinos sem pestanejar. São cúmplices de uma política assassina há décadas. Assumam de vez que somos um país do terceiro mundo, com este modelo florestal.

O mesmo país que consegue coercivamente mandar a população cortar mato, árvores autóctones resilientes e fazer faixas de gestão para alimentar um lobi, na esmagadora maioria dos casos, para nada.

Não consegue descontinuar/reduzir/bloquear/gerir esta praga?

Não, não arde tudo igual! O que ardeu há muito tempo foi a vossa vergonha."

Por Daniel Pinheiro 



👉 O terceiro é o alerta de Henrique Pereira dos Santos: Foi só um aviso sério 


“Espero, ardentemente espero” (Jorge de Sena não estava a fazer nenhum trocadilho barato com os fogos quando escreveu este verso, e eu também não, ao citá-lo) que Luís Montenegro não acredite nem um átomo no que disse sobre ignições, crime de incêndio florestal e interesses.

Prefiro o cinismo da resposta política clássica que substitui a falta de política de resposta ao fogo, à crença genuína num erro colossal de interpretação da realidade sobre gestão do fogo.

Para quem queira realmente saber as motivações dos incendiários portugueses, independentemente das ignições desempenharem um papel marginal na definição das políticas de gestão de fogo – existem implicações operacionais no combate quando há muitas ou poucas ignições – o que sugiro, especialmente aos senhores jornalistas que fazem horas e horas de reportagem a ouvir pessoas alteradas e desesperadas pela proximidade de um incêndio, é que leiam o que escreveu Cristina Soeiro e a investigação que existe à volta do assunto.

Se quiserem podem ler tudo o que aqui está sobre o crime de incêndio florestal nesta ligação, mas se não quiserem ler tudo, leiam ao menos o capítulo escrito por Cristina Soeiro.

O essencial, no entanto, não é esta discussão serôdia sobre ignições (comentava recentemente Paulo Fernandes que pensava que era uma discussão que tinha sido resolvida há vinte anos) mas a consciência de que o que se passou recentemente em matéria de fogos foi só um aviso do que está para vir.

Hesitei em escrever este “só”, que pode ser interpretado como uma desvalorização do que se passou, em especial as mortes, mas mantive-o para vincar bem que é “só” um aviso do que está para vir, independentemente de ser um aviso sério com consequências muito negativas para muita gente.

Dentro de cinco a seis anos a acumulação de combustível florestal depois dos incêndios de 2016, 2017 e 2018 estará perto do máximo de risco.

Quando houver uma semana de humidades atmosféricas tão baixas como estas que houve (e que se relacionam fortemente com o número de ignições) e com ventos fortes que não existiram desta vez (que se relacionam com a velocidade de progressão e a intensidade do incêndio), a catástrofe será muito maior se não conseguirmos inverter o caminho de acumulação de combustível em que estamos.


Não vale a pena partir do princípio de que pode ser que isto não aconteça, ou que, acontecendo, o dispositivo de combate que existe consegue dar resposta.

Não vale a pena pensar que se reduzirmos emissões de gases amenizamos o problema, não vale a pena dizer que se a composição do coberto florestal for diferente talvez nos safemos, não vale a pena tentar prender todos os incendiários, não vale a pena povoar o interior com cabeleireiros e empresários dinâmicos de novas tecnologias, não vale a pena discutir a estrutura de propriedade (uma discussão tão velha como a das ignições mas que, até hoje, não produziu um único mapa que consiga relacionar estrutura de propriedade com comportamento do fogo): ou temos gestão, ou não temos gestão.


Se temos gestão, podemos escolher quando arde, onde arde, como arde, se não temos gestão, arde quando calha, o que quer dizer, com a acumulação de materiais finos que temos, que uma semana de secura extrema combinada com vento forte nos leva a dimensões de catástrofe muito maiores que a destes dias.

Seria bom aproveitar o sério aviso para mudar de vida no que a esta matéria diz respeito.



Fontes/Links:

https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/cerca-de-135-mil-hectares-ardidos-entre-domingo-e-sexta-feira

https://eco.sapo.pt/especiais/autarcas-pedem-reforma-da-legislacao-para-obrigar-proprietarios-a-limpar-terrenos/

https://www.facebook.com/share/p/g526WixVjCw3qk9G/?mibextid=K35XfP

https://observador.pt/opiniao/foi-so-um-aviso-serio/

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22 de setembro de 2024

22 de setembro



22 de setembro é o 266.º dia do ano no calendário gregoriano. Faltam 100 dias para acabar o ano. É o dia do equinócio de Outono, quando começa a primavera no hemisfério sul e o outono no hemisfério norte.  


Fontes/Links:

https://www.calendarr.com/portugal/equinocio-de-outono/

https://starwalk.space/pt/news/autumnal-equinox-first-day-of-fall

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