das quais partilhamos aqui alguns excertos:
As aldeias serranas da Lousã são um excelente exemplo, até excêntrico, de mudança de identidade e trajetória original. Anteriormente comunidades rurais com uma economia agro-pastoril e identidades próprias que tiveram a própria Serra como espaço produtivo (Osório et al., 1989), foram transformadas em espaços de lazer não unificados e socialmente contrastados (Rodrigues, 1994).
O crescimento populacional (natural) – que ocorreu entre o final da década de 1800 e meados do século XX – não se refletiu por um aumento na produção e no rendimento. Isto resultou numa mobilidade progressiva da população (Monteiro, 1985) e ditou o declínio irreversível das comunidades serranas (Tabela 2).
A segunda habitação casa foi o que levou à reabilitação de três aldeias de montanha: Casal Novo, Talasnal e Candal.
As aldeias serranas de Vaqueirinho, Catarredor e Cerdeira foram ocupadas por pessoas que fogem do ambiente urbano e vêm da Europa Central. Alguns portugueses também foram para lá praticar a agricultura (biológica), criando pecuária, produzindo trabalhos artesanais, quase todos eles em alguma forma de isolamento.
A reabilitação física das aldeias serranas é o resultado de um trabalho espontâneo resultante de iniciativas privadas e não recebeu apoio financeiro público (nacional ou comunitário).
As novas imagens retratam fachadas recriadas e novos interiores adaptados às funções e valores dos novos ocupantes – neo-rurais. A envolvente rural das aldeias com os antigos socalcos agrícolas, pastagens e florestas, permanecem negligenciadas e desertas desde a partida dos últimos moradores da serra.
No entanto, há uma certa geografia de insegurança na população isolamento da Serra da Lousã, e este decorre do elevado risco florestal os incêndios e a baixa densidade de ocupação daquelas aldeias.
tentando aprofundar este tema, deixamos aqui mais algumas referências a leituras sobre o mesmo:
Por Adrián Dominguez - 16 de Setembro de 2016
É na Península Ibérica que se situam as mais longas extensões territoriais com a menor densidade populacional de toda a área da comunidade europeia. Essas zonas estão, no entanto, em mudança; muitos citadinos estão a repensar o seu estilo de vida e a regressar à ruralidade, tornando a habitar aldeias que o êxodo rural condenou ao abandono. O motivo? "A falta de trabalho nas suas cidades de origem", esclarece o fotógrafo espanhol Adrián Dominguez, que se dedicou ao projeto entre 2015 e 16. Eles são jovens, muitas vezes estrangeiros, e oriundos dos grandes centros urbanos. O fenómeno é definido como "neo-ruralismo" e existe quase desde o início do processo de industrialização — embora tenha vindo a sofrer alterações ao longo dos anos. "Os recém-chegados vivem com os nativos e dedicam-se a iniciativas de recuperação logística e histórica dos locais, reavivando os costumes e trazendo novas ideias e projectos para o desenvolvimento local", disse ao P3 o fotógrafo espanhol Adrián Dominguez. "Os 'neo-rurais' prezam a relação com o meio e a comunidade e trazem consigo hábitos de sustentabilidade, como por exemplo a reciclagem, esforçando-se por recuperar a ligação com a natureza e os animais." Partilham ideais de ecologia, o amor pela Natureza e o desejo de alcançar uma calma interior que acreditam só ser tangível através do contacto com a terra, longe dos ritmos frenéticos da cidade.
Encontramos ainda um artigo de interesse publicado no Observador e da autoria de António Covas, intitulado: Rurbanização, neorurais e 2ª ruralidade
onde a autora faz várias abordagens ao conceito de “Neorrural” e “Neorruralidade”
“Povoamento Neo-rural”
“surgimento dos indivíduos Neo-rurais no ano de 1968, associado a um movimento que para além de ter durado até meados da década de 70 na Europa Norte-Ocidental, foi especialmente importante na França associado à cultura hippie”.
“Neorruralidade”
“Fenómeno de retorno ao campo, oposto ao êxodo rural e de caráter multidimensional” ;“Normalmente referido como escolha de residência secundária…, no entanto, observou que pode ser mais complexo, e ao invés de revelar uma escolha poderá ser indicador de uma repulsa que os indivíduos sentem em relação aos meios urbanos”; não pode ser comparado ao fenómeno de “rurbanização”, dado que este se identifica por uma recriação do modelo rural tradicional em zonas que não totalmente rurais, oposta á sua visão sobre Neorruralidade, na qual pressupõe um total afastamento ao que é urbano;
e ao
“Neorruralismo”
o surgimento dos indivíduos Neo-rurais ocorreu no ano de 1968, tendo durado até meados da década de 70. No entanto, enquanto na Europa Norte-Ocidental este movimento para além de ser menos evidente, está ligado a “movimentos libertários e contraculturais”, sendo que no contexto francês está associado á cultura hippie, contribuindo positivamente para o desenvolvimento das suas áreas rurais. Ainda nesta ótica, Xerardo Pereiro (2018), aborda o papel que o turismo tem tido na associação a estes conceitos. Podemos dizer, que enquanto no contexto anglo-saxónico este movimento é definido como pós-ruralidade, no contexto francês é designado de neo-ruralidade. Apesar da maioria destes autores se referir quer a Neorruralidade quer a Neo-rural, Maria da Nazaré Roca (2011), defende a existência do conceito de “Neorruralismo”, no entanto faz uso das mesmas observações.
(…)
Desta forma, damos conta que o fenómeno da Neorruralidade pressupõe um total afastamento ao que é urbano. Dando conta neste caso, que este pode assumir uma pluralidade, tendo em conta modos de vidas distintos, inerentes a motivações e desejos igualmente distintos. É inerente a esta pluralidade, que este é notado como um movimento distinto do passado, e que ainda não pode ser confundido com nova ruralidade. Nesta perspetiva, Candiotto e Corrêa (2008), Maria Rivera (2009) e Xerardo Pereiro (2018), observam que se anteriormente o movimento de entrada nos meios rurais apenas focava a dimensão espacial, este encontra-se agora ligado a uma procura por um estilo de vida em função da tranquilidade e da proximidade com a natureza, o que na sua ótica o apelo ao maior ou menor grau de identificação com os espaços rurais tendo em conta os seus recursos naturais, são aspetos que podem estar na base da compreensão destes fenómenos.
(…)
e, por agora, ficamo-nos por aqui...
(continua...)
Fontes/Links:
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigado pelo seu comentário!