O povoamento da Serra da Lousã e as Aldeias Serranas


A Serra da Lousã, como tantas outras deste País, tem sido fustigada pelo ventos da evolução e mudança, revelando nos seus vales e encostas cicatrizes mais ou menos profundas, causadas pela mão do Homem na sua inocência, ganância, curiosidade e, quase sempre, necessidade. A sua flora natural, ou pelo menos aquela que constituía a "última cobertura vegetal natural", era constituída por carvalhos caducifólios, como o Quercus robor nos vales e encostas e, talvez, o Quercus pyrenaica e o Quercus suber nas zonas de clima mais temperado e seco (COSTA, 1992). No entanto, devido a sucessivas acções de desarborização que originaram a curto prazo uma acentuada erosão em alguns locais da Serra, hoje em dia existem zonas em que já nem os urzais, tojais e giestais conseguem vegetar (COSTA, 1992). Refiram-se então alguns marcos históricos importantes acerca da Serra da Lousã, desde o séc. XV:


1402 - Existência de pelo menos dois locais habitados na Bacia da Lousã (Lugar dos Cômoros e Aldeia da Ribeira), mas fora da vila; criação de gado bovino e agricultura nos campos do Vale do Arouce; desconhece-se a ocupação da Serra (COSTA, 1992 cit. CAMPOS, 1987).

1467 - Existência de "montados na serra do Trevim e da Horta até Cruz de Espinho" de molde a apascentar gados; Serra com estatuto de baldio; preocupação quanto ao uso da Serra (em registos de então lê-se: "... lhes comem toda a erva e lhes destroem quanta madeira eles têm ..." ) (COSTA, 1992 cit. LEMOS, 1959).

1527 - Recenseamento de Portugal declara que a Serra se encontra desabitada, com excepção de duas famílias em Vale de Nogueira (COSTA, 1992 cit. COLLAÇO, 1929).

 1679/87 - Forte ocupação da Serra como o atesta a existência das aldeias de Casal Novo, Talasnal, Catarredor, Cerdeiras, Vaqueirinho, Chiqueiro e Silveiras, além de outras seguramente mais antigas como Vale Maceira, Vale Nogueira e Vale Domingos (COSTA, 1992 cit. MEXIA, 1938).

1734 - A Câmara da Lousã proibe: o corte de lenha na Serra para ser trazida rio abaixo, a produção de carvão na Serra, corte de pinheiros, rama dos mesmos, lenha e cepos e a entrada de gados nos pinhais (COSTA, 1992 cit. MEXIA, 1938).

1747 -Produção intensa de gados na Serra, especialmente suíno, que se alimentava da lande de carvalho. Degração da Serra em relação a descrições anteriores (COSTA, 1992 cit.DAVEAU, 1988).

1794 - Proibição do arranque de cepa para fazer carvão, excepto para os ferreiros e a fábrica de papel, mas só em sitios muito distantes (COSTA, 1992 cit. MEXIA, 1938).

1853/54 - Total desarborização no caminho da Lousã ao Trevim, consequência evidente do pastoreio estival que aí se exerce.

1868 - O Relatório acerca da Arborização Geral do Paiz (Ribeiro & Delgado, 1868) refere-se de uma maneira clara ao estado de desnudação em que se encontra a Serra de Lousã. Como causa principal aponta-se o "extraordinário consumo de matos" para produção de adubo orgânico, referindo que se chegava a "rapar o mato à enxada", deixando os terrenos completamente desprotegidos perante a acção das águas da chuvas. Cita-se existência de sementeiras de penisco (pinus pinaster ou pinus sylvestris) feitas por particulares nos terrenos baldios, bem como a existência de pinhais mais antigos nas duas encostas da Serra (COSTA, 1992 cit. RIBEIRO & DELGADO, 1868).

1871 - A Câmara da Lousã demonstra interesse na arborização da Serra, tendo procedido à sementeira de penisco bem como à plantação de carvalhos, castanheiros, e sobreiros. Primeiras acções de correcção torrencial (COSTA, 1992 cit. ARANHA, 1871).

1879/80 - J. Rivoli observou manchas de pinheiro bravo dispersas pela Serra, exploradas pelo município da Lousã, que permitia a sua exploração integral das mesmas até ao corte final. Ausência de referências em relação ao pastoreio, uma vez que a cobertura vegetal era praticamente inexistente nas zonas antes utilizadas para produção de gados. Como causas de tal situação apontam-se a secura estival, bem como a disposição vertical do substrato geológico de natureza xistosa que originam, segundo o autor, a perda de água para profundidades dificilmente alcançáveis por plantas de porte herbáceo ou arbustivo (COSTA, 1992 cit. RIVOLI, 1881).

1912 - Referência a uma doença então misteriosa, e que dizimou completamente os castanheiros existentes em toda a Serra, compreendidos entre os 400 e 600 m de altitude (COSTA, 1992 cit. POINSARD, 1912).

1938 - Grande parte da Serra encontra-se árida e nua, existindo no entanto uma forte tendência de colonização, especialmente pelo pinheiro bravo, que se começa a espalhar pela Serra. Surgem os primeiros rebanhos (COSTA, 1992).

1939 - Segundo o Projecto de Arborização do Perímetro Florestal da Lousã, 4460 ha estariam submetidos ao regime florestal, sendo 1337 ha destinados a arborização (as espécies referidas neste projecto, utilizadas na arborização foram especialmente castanheiros, carvalho português, carvalho pardo, medronheiro, sobreiro e pinheiro bravo). Destes, 811 encontravam-se já arborizados, estando os restantes 526 ha revestidos por matos, bastante degradados, utilizados na alimentação de gados e produção de estrumes (COSTA, 1992).

1956 - Dos 4460 ha submetidos ao regime florestal no Perímetro Florestal da Lousã, os 1337 destinados a arborização encontrava-se totalmente arborizados.


De acordo com os registos (1885-2003) registavam-se os seguintes dados no que concerne ao povoamento das aldeias serranas:  



Fontes/Links:

Património Construído e Desenvolvimento em Áreas de Montanha
O Exemplo da Serra da Lousã


e

1º CONGRESSO DE ESTUDOS RURAIS
Identidades e Destinos do Território na Serra da Lousã 

https://sper.pt/oldsite/ICER/DOWNLOAD/2009.PDF  

e ainda

(coleções de registos, outras fontes - lousa (geocities.ws)

https://www.geocities.ws/velocipedia/lousa.htm


Publicado em:  27-10-2021
Atualizado em: 25-03-2024

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