Projeto de reabilitação da aldeia do Xisto: Silveira de Baixo


Projeto de reabilitação da aldeia do Xisto: Silveira de Baixo 

Relatório de Estágio

Reabilitação da gestão hídrica de uma aldeia do Xisto, o caso de estudo do casal da Silveira.


3.3 Contextualização Social

Todo o sistema assentava numa organização social, que por norma, seria feita e aceite em consenso, mas que no caso do Candal teve ser definida por escrito, em 1927,daí a presença de um exemplar da escritura da distribuição de rega dessa aldeia na biblioteca municipal. Esse sistema social mostra a necessidade de cooperação dentro de cada aldeia e a sua concretização ao revelar que apenas uma das nove aldeias do estudo de Paulo Monteiro (1985), precisou de legitimar o processo em questão. Esta característica está presente em muitos outros excertos da sua obra quando são mencionados moinhos, lagares, alambiques e fornos comunitários. Também é percetível um cargo de pastor da aldeia e trabalhadores de família, porque a mão de obra externa era muito cara. As relações sociais eram exacerbadas ao ponto de haver partilhas de terras para cultivo, mão de obra familiar ou outros recursos entre os aldeões. 

No que diz respeito às relações sociais entre as pessoas das aldeias e as pessoas da vila (Lousã) o autor descreve um episódio de extrema importância.


Em princípios de 1909, a Câmara da Lousã, propôs aos Serviços Florestais, que arborizassem os baldios, em vez de os manter sobre gestão dos locais serranos. 

O pretexto seria o de homogeneizar o concelho e tornar a Serra “acessível e acolhedora” (ob. cit., p.188). A apropriação dos baldios que eram como que o “capital de reserva” dos aldeões levou a que o sistema agrosilvopastoril local entrasse em desequilíbrio, pois na altura as matas do casal eram escassas, daí a importância dos baldios para a pastagem do rebanho comum de cada aldeia e recolha de lenha. 

O autor vinca as diferenças entre o conceito de espaço florestal da Câmara e o dos aldeões serranos. 

Também refere que este episódio foi um dos principais motivos para o despovoamento das aldeias, principalmente nas Silveiras e na Cerdeira. Em relação à gestão interna nas aldeias também se assistiu à repartição do casal pelas famílias que habitavam nas aldeias, para que houvesse a possibilidade de uma gestão personalizável pelos proprietários. 

Em conclusão, a intervenção desinformada da Câmara e a imparcialidade das ações efetuadas pelos Serviços Florestais quebraram o equilíbrio agro-silvopastoril que os aldeões tinham estabelecido entre aldeia-casal-baldios e por consequência quebrou o equilíbrio da gestão local de recursos hídricos-agrícolas-florestais

(Monteiro, 1985, pp.185-211).

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Data do documento:4-04-2022



Fontes/Links:

Tese.mestrado.versao.Final.pdf



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