3 de outubro de 2022

 A biomassa em Portugal: governo deve intervir!

   

Artigo de Opinião

Por: Miguel Viegas

Professor e investigador na Universidade de Aveiro

 30 Setembro 2022 às 11:36

 A floresta representa um recurso com um potencial estratégico para Portugal. Em muitos territórios, a floresta, desde bem gerida, pode representar a única atividade rentável e capaz de estancar a hemorragia social, económica e demográfica. O bom aproveitamento da biomassa excedentária da floresta deveria ser a pedra basilar de todo o sistema, contribuindo para a prevenção dos incêndios, a produção de energia renovável e a criação de valor na fileira florestal. Contudo, a corrida às energias renováveis altamente subsidiadas, acelerada recentemente com a guerra na Ucrânia, está a criar uma situação insustentável em Portugal. Se nada for feito, o nosso país corre o risco de ficar sem floresta, sem energia renovável e com dezenas de unidades industriais do setor paradas por falta de matéria prima.

 

A pressão sobre a nossa floresta não é de agora. Assim que começaram a subsidiar a energia renovável, as grandes multinacionais da energia começaram a reconverter as suas centrais a carvão para biomassa. A Europa começou a importar do mundo inteiro quantidades industriais do mundo inteiro, sendo hoje o maior consumidor e importador mundial de pellets. Uma Europa "limpa", mas à custa de países terceiros. Entre os maiores beneficiários deste banquete, encontramos as grandes multinacionais da energia como a Orsted ou a Drax entre outras.

 

Em Portugal, estima-se que a produção de pellets em 2021 tenha atingido as 815 mil toneladas, 60% das quais foram exportadas para o Reino Unido, Países Baixos e Dinamarca para serem queimadas em centrais de produção elétrica. Esta procura desenfreada de biomassa agravou-se com as sanções à Rússia, um dos grandes produtores e fornecedores de pellets para a Europa. A pressão na biomassa florestal, que já era enorme, tornou-se insustentável, colocando em risco a floresta (sobretudo a floresta de pinho) e todas as indústrias associadas incluindo as centrais de biomassa. São várias as associações que têm denunciado a queima de troncos de madeira apesar da legislação limitar a biomassa aos sobrantes da floresta ou resíduos industriais.1 O Centro PINUS considera preocupante que o setor energético tenha representado 27% do consumo de pinho, com graves implicações para a sustentabilidade da Fileira e a competitividade do país, obrigando à importação de madeira.

 

O governo português não pode ignorar esta situação por muito mais tempo, acreditando que as leis do mercado irão resolver o problema. Hoje, os milhares de famílias que investiram em sistemas de aquecimento a partir de biomassa são confrontados com uma subida de preço dos pellets de 300% (sim o triplo!). Empresas francesas estão neste momento a oferecer 1200 euros por tonelada de pellets. Ao nível da floresta, à falta de biomassa, arrancam-se árvores inteiras para satisfazer lucros imediatos da indústria exportadoras de pellets cuja capacidade de produção está ainda longe do seu limite. 


Vivemos um período de exceção que exige medidas excecionais. Ao governo português exige-se que intervenha nesta situação, fiscalizando a indústria e limitando a saída de biomassa, protegendo a fileira florestal, os consumidores e o nosso meio ambiente.

 

Links:

https://www.jn.pt/opiniao/convidados/a-biomassa-em-portugal-governo-deve-intervir-15212341.html

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