Artigo de Opinião
Por: Miguel
Viegas
Professor
e investigador na Universidade de Aveiro
A pressão
sobre a nossa floresta não é de agora. Assim que começaram a subsidiar a
energia renovável, as grandes multinacionais da energia começaram a reconverter
as suas centrais a carvão para biomassa. A Europa começou a importar do mundo
inteiro quantidades industriais do mundo inteiro, sendo hoje o maior consumidor
e importador mundial de pellets. Uma Europa "limpa", mas à custa de
países terceiros. Entre os maiores beneficiários deste banquete, encontramos as
grandes multinacionais da energia como a Orsted ou a Drax entre outras.
Em
Portugal, estima-se que a produção de pellets em 2021 tenha atingido as 815 mil
toneladas, 60% das quais foram exportadas para o Reino Unido, Países Baixos e
Dinamarca para serem queimadas em centrais de produção elétrica. Esta procura
desenfreada de biomassa agravou-se com as sanções à Rússia, um dos grandes
produtores e fornecedores de pellets para a Europa. A pressão na biomassa florestal,
que já era enorme, tornou-se insustentável, colocando em risco a floresta
(sobretudo a floresta de pinho) e todas as indústrias associadas incluindo as
centrais de biomassa. São várias as associações que têm denunciado a queima de
troncos de madeira apesar da legislação limitar a biomassa aos sobrantes da
floresta ou resíduos industriais.1 O Centro PINUS considera preocupante que o
setor energético tenha representado 27% do consumo de pinho, com graves
implicações para a sustentabilidade da Fileira e a competitividade do país,
obrigando à importação de madeira.
O governo português não pode ignorar esta situação por muito mais tempo, acreditando que as leis do mercado irão resolver o problema. Hoje, os milhares de famílias que investiram em sistemas de aquecimento a partir de biomassa são confrontados com uma subida de preço dos pellets de 300% (sim o triplo!). Empresas francesas estão neste momento a oferecer 1200 euros por tonelada de pellets. Ao nível da floresta, à falta de biomassa, arrancam-se árvores inteiras para satisfazer lucros imediatos da indústria exportadoras de pellets cuja capacidade de produção está ainda longe do seu limite.
Vivemos um período de exceção que
exige medidas excecionais. Ao governo português exige-se que intervenha nesta
situação, fiscalizando a indústria e limitando a saída de biomassa, protegendo
a fileira florestal, os consumidores e o nosso meio ambiente.
Links:
https://www.jn.pt/opiniao/convidados/a-biomassa-em-portugal-governo-deve-intervir-15212341.html
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